quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Vivência Docente

_OBSERVAÇÃO DE AULA DE GEOGRAFIA - 2° SEMESTRE: ENSINO MÉDIO


RESUMO


De acordo com a disciplina “Ensino de Geografia e Estágio de Vivência” ofertada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e ministrada pela Profª. Drª. Rosely Archela, estarão sendo feitas algumas reflexões sobre o estágio de observação de aulas de geografia no ensino médio. Este trabalho foi realizado no Colégio Hugo Simas, escola pública da cidade de Londrina, com foco nas turmas de 3ª série do ensino médio, totalizando em 10 horas de atividade.

Palavras – chave: Ensino de Geografia, Ensino Médio, Escola Pública, Professor.


Introdução

Seguindo os padrões da observação anterior em relação ao Ensino de Geografia, este trabalho foi realizado no Colégio Hugo Simas da cidade de Londrina, pelos alunos Flávia Rolim Loureiro Guimarães, Deyvid Fernando dos Reis e Evandro Gabriel Arcanjo, regularmente matriculados no 3º ano de Geografia da UEL.

Descrição das atividades observadas

Analisou-se a escola enquanto objeto físico, visto que é nela em que o processo de aprendizagem ocorre, e que isso influi muito no aproveitamento do aluno e na didática do professor. O espaço do Colégio Hugo Simas é razoavelmente grande, suficiente para comportar o número de alunos que estão matriculados. O estabelecimento foi reformado, tornando-o mais agradável e organizado para a realização das atividades do colégio. Há diversos funcionários, como: faxineiros, cozinheiros, seguranças, porteiros, secretários, professores, coordenadores, diretores etc, o que dinamiza melhor a distribuição das atividades entre estes profissionais. Além disso, cada sala era equipada com televisores com entrada de pendrive.

No primeiro dia de observação, o professor nos apresentou para todas as turmas e em seguida deu início à aula fazendo a chamada. O professor deu continuidade à ultima aula, cujo tema era “Os conflitos atuais e a organização do espaço geográfico na atualidade”. Esse conteúdo seria um dos últimos a ser ensinado antes da prova.
Foi feita a leitura no livro didático com a participação de alguns alunos nessa leitura. O professor utilizou o quadro negro apenas para escrever algumas palavras de relevância e um mapa-mundi para localizar as regiões abordadas na aula, e fez algumas perguntas para os alunos, relacionadas ao que tinham visto na televisão, jornal, internet ou revista sobre os conflitos mundiais. Alguns alunos responderam à pergunta, e citaram a Guerra no Iraque, o 11 de setembro e a questão na Geórgia. A turma se manteve um pouco agitada, porém houve uma participação satisfatória na aula. Acreditamos que isso tenha a ver com a proximidade da data da prova, a qual preocupava muito os alunos.
O professor não teve grande dificuldade em manter a disciplina na aula, algumas conversas paralelas foram notadas, porém dois meninos que conversavam muito foram alertados que iriam perder 1 ponto cada um na prova, caso continuassem a conversa. Eles mantiveram-se quietos após a atitude do professor.
No fim da aula o professor indicou uma leitura do material didático, sobre “O papel da África no século XXI”, que seria tema da aula seguinte. Todos os alunos deveriam ler sobre o tema, pois haveria a discussão do assunto.

Logo após a primeira aula, fomos para a outra turma do 3º ano. Nesta sala seriam dadas duas aulas seguidas de Geografia excepcionalmente, devido à necessidade que o professor teve anteriormente em ausentar-se. De acordo com a divisão dos horários, uma dessas aulas seria pertinente à uma outra turma de 3º ano, porém esta estava mais adiantada no conteúdo. O tema foi o mesmo da turma anterior: Os conflitos atuais e a organização do espaço geográfico na atualidade; porém veriam todo o conteúdo no mesmo dia. A turma estava muito agitada, principalmente no período que se aproximava do intervalo. O professor sentiu mais dificuldade em manter a atenção dos alunos sobre a matéria, pois eles não demonstravam interesse sobre o assunto, principalmente no momento da leitura. Poucos participavam espontaneamente, o que fez com que o professor questionasse mais os alunos para prendê-los a atenção. Um grupo de 5 alunos (3 meninos e 2 meninas) conversaram ao longo da aula, o que fez com que o professor pedisse para que eles trouxessem uma pesquisa feita em casa, individualmente sobre o assunto dado, para a aula seguinte valendo nota. Os alunos reagiram com aversão à ordem do professor, e disseram achar aquilo uma injustiça. O professor utilizou o quadro negro e mapa-mundi para expor alguns conceitos, igualmente na turma anterior, seguindo com algumas perguntas para a sala, focando-se principalmente nos alunos mais dispersos. Foi feita a chamada e também foi sugeria a leitura sobre a África no material didático.

Na observação seguinte, o professor cobrou a pesquisa dos 5 alunos que haviam se dispersado na aula anterior e fez a chamada. Apenas 1 não fez a tarefa. O professor disse que ele não estava levando à sério a matéria há muito tempo, e isso iria comprometê-lo no vestibular, além de perder 1 ponto na prova por não ter feito a pesquisa. O aluno mostrou indiferença ao comentário do professor e sentou-se na última carteira da sala, mostrando-se mais distante.
Posteriormente, o professor perguntou quem havia lido o texto sobre a África e cerca de 75% dos alunos afirmaram ter realizado a leitura. Houve surpresa por parte do professor, visto que geralmente menos de 50% costumam atende-lo nessas propostas. Em seguida, o professor discutiu a matéria e fez um esquema para orientação do conteúdo no quadro e expôs algumas imagens sobre a África, colhidas em revistas/livros. Este assunto mostrou grande interesse por parte da maioria dos alunos, que fizeram diversas perguntas ao professor, referentes à exploração dos africanos, a questão cultural etc. Um aluno citou o filme “Hotel Ruanda”, e sugeriu que fosse passado em sala de aula para a turma, mas o professor negou a proposta devido à falta de tempo, pois haveria de fazer uma revisão da matéria dada no semestre antes da prova; porém incentivou os alunos a assistirem ao filme.
A aula terminou com 10 minutos de atraso devido às diversas discussões sobre a África. Constatamos que a aula foi produtiva, pois houve grande interação entre os alunos e o professor; o que garantiu uma boa disciplina de todos.
O professor avisou que o conteúdo da matéria terminava alí e que a aula seguinte seria de revisão, e seria importante que os alunos estudassem para retirar possíveis dúvidas.

Em seguida partimos para outra turma que também teve a aula sobre a África. Até então nós não tínhamos observado a aula nessa sala, e o professor precisou nos apresentar. Segundo ele, esta turma era a mais agitada entre as três.
O professor fez a chamada e ao iniciar a aula manteve uma postura mais autoritária com a turma, devido à enorme dificuldade em mantê-los atentos à matéria. Haviam muitas conversas paralelas, o que tornava a aula mais improdutiva pela necessidade da intervenção do professor. Ele passou alguns tópicos no quadro, expôs as imagens e alguns alunos participaram da aula, porém a grande maioria parecia preocupada com outros assuntos, como a prova de matemática que ocorreria naquele mesmo dia, além de outros assuntos sem relação com a escola. O professor alertou um pouco irritado, que este tema cairia na prova e que era de relevância para o vestibular. A aula terminou com alguns minutos de antecedência devido à agitação da turma que afetou a paciência do professor.

Posteriormente seguimos para outra turma, onde cerca de 50% dos alunos haviam feito a leitura sobre a África. Porém a participação na aula mostrou-se satisfatória devido à participação dos alunos. O professor adotou o mesmo procedimento que nas turmas anteriores: quadro negro, imagens sobre a África e discussão do tema com os alunos. A aula foi produtiva e rica em informações.
Algumas conversas paralelas foram observadas, mas de modo geral, não atrapalharam a aula. O professor finalizou o conteúdo e lembrou os alunos sobre a revisão da aula seguinte.

Na observação seguinte, o professor iniciou a revisão para a prova. Os conteúdos revisados seriam: Nova Política Econômica, Oriente Médio (conflitos e importância geopolítica), Guerra Irã x Iraque, Guerra do Golfo, A questão do petróleo no cenário mundial, 11 de setembro, Os conflitos atuais e a organização do espaço geográfico na atualidade e a Questão Africana. Os alunos mostraram-se preocupados ao longo da revisão, pois a maioria não se sentia domínio do assunto. Muitos falaram que iriam muito mal na prova durante a aula, ao acompanharem o professor.
Percebemos uma disciplina maior por parte dos alunos, devido à proximidade com a data da avaliação. O professor não precisou interromper com freqüência a aula por causa das conversas paralelas. Nesta revisão o material utilizado foi: mapa-mundi e quadro negro, apenas.
Posteriormente, foi feita a revisão nas outras duas turmas, ambas comportaram-se basicamente como a turma anterior. Verificamos uma indisciplina um pouco maior em uma delas, onde o professor não pôde tirar muitas dúvidas dos alunos devido às conversas paralelas e interrupções desnecessárias dos alunos.
O professor alertou todas as turmas sobre a dificuldade da prova, pois ela abordaria temas importantes e complexos, o que amedrontou a grande maioria dos estudantes. Alguns se mostraram despreocupados ou desinteressados com o que o professor iria cobrar na prova.

De modo geral, vimos que o professor tem uma boa postura com a sala, apesar de toda a dificuldade em passar a matéria. Ele utiliza recursos importantes para o ensino de Geografia como mapas, imagens, reflexão dos temas através de conteúdos abordados na TV, internet, revistas e livros, além de promover a leitura do livro didático e fazer questões para a sala, na tentativa de prender a atenção dos alunos e fazê-los assimilar a matéria. Apenas, o quadro negro não é muito explorado, pois o professor utiliza-o apenas para fazer pequenos esquemas ou escrever algumas palavras, e isso dificulta o processo de aprendizagem de muitos alunos.

Avaliação geral

O Colégio Estadual Hugo Simas proporcionou uma visão interessante sobre uma instituição pública brasileira, pois mantém um padrão muito bom, tanto na questão da estrutura física quanto na qualidade do ensino, visto que como muitas outras instituições, esta também encontra dificuldades para atuar na área da educação. Isso o torna uma exceção se comparado com diversos outros colégios desta categoria da cidade, e também do país.

Conclusão

Este trabalho de observação nos fez refletir mais um pouco, não só sobre o ensino da Geografia nas escolas, mas no ensino de modo geral. Como diz Paulo Freire, quanto mais o professor possibilitar aos estudantes perceberem-se como seres inseridos no mundo, tanto mais se sentirão desafiados a responder aos novos desafios. Ensinar, aprender e pesquisar lidam com dois momentos do ciclo gnosiológico: o em que se ensina e se aprende o conhecimento já existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente.
José William Vesentini, uma referência ao que diz respeito à nova geografia escolar diz em uma de suas obras que:
Um ensino crítico da geografia não se limita a uma renovação do conteúdo – com a incorporação de novos temas/problemas, normalmente ligados às lutas sócias: relações de gênero, ênfase na participação do cidadão/morador e não no planejamento, compreensões das desigualdades e das exclusões, dos direitos sócias (inclusive os do consumidor), da questão ambiental e das lutas ecológicas etc. Ela também implica valorizar determinadas atitudes – combate aos preconceitos: ênfase ética, no respeito aos direitos alheios e às diferenças: sociabilidade e inteligência emocional – e habilidades ( raciocínio, aplicação/ elaboração de conceitos, capacidade de observação e de critica etc. (VESENTINI, 2004)

Alem disso, é possível ainda, tratar da questão da instituição de ensino onde
[...] podemos compreender um fenômeno que percorre a educação brasileira em todos os níveis, qual seja, a simultaneidade entre massificação e privatização do ensino. A massificação substitui a democratização: em lugar do igual direito de todos de acesso ao saber, a massificação envolve o ensino público no nível fundamental e no nível médio, de maneira que embora o número de crianças e adolescentes escolarizados seja grande, a qualidade do ensino é baixa e precária. Por sua vez, a privatização se torna sinônimo de modernidade e qualidade, sobretudo nos níveis fundamental e médio, de maneira que a educação supostamente de qualidade torna-se claramente uma mercadoria, desaparecendo a idéia de que seja um direito do cidadão. (CHAUI, 2003)


BIBLIOGRAFIAS

CHAUÍ, M. A universidade pública sob nova perspectiva. Disponível em: . Acesso em: 22 nov. 2008.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1975.

VESENTINI, José William. Realidades e perspectivas do ensino de Geografia no Brasil. ___In:VESENTINI, José William (Org.). O ensino de Geografia no século XXI. Campinas, SP: Papirus, 2004. p. 219-248

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