quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Vivência Docente

_OBSERVAÇÃO DE AULA DE GEOGRAFIA - 2° SEMESTRE: ENSINO MÉDIO


RESUMO


De acordo com a disciplina “Ensino de Geografia e Estágio de Vivência” ofertada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e ministrada pela Profª. Drª. Rosely Archela, estarão sendo feitas algumas reflexões sobre o estágio de observação de aulas de geografia no ensino médio. Este trabalho foi realizado no Colégio Hugo Simas, escola pública da cidade de Londrina, com foco nas turmas de 3ª série do ensino médio, totalizando em 10 horas de atividade.

Palavras – chave: Ensino de Geografia, Ensino Médio, Escola Pública, Professor.


Introdução

Seguindo os padrões da observação anterior em relação ao Ensino de Geografia, este trabalho foi realizado no Colégio Hugo Simas da cidade de Londrina, pelos alunos Flávia Rolim Loureiro Guimarães, Deyvid Fernando dos Reis e Evandro Gabriel Arcanjo, regularmente matriculados no 3º ano de Geografia da UEL.

Descrição das atividades observadas

Analisou-se a escola enquanto objeto físico, visto que é nela em que o processo de aprendizagem ocorre, e que isso influi muito no aproveitamento do aluno e na didática do professor. O espaço do Colégio Hugo Simas é razoavelmente grande, suficiente para comportar o número de alunos que estão matriculados. O estabelecimento foi reformado, tornando-o mais agradável e organizado para a realização das atividades do colégio. Há diversos funcionários, como: faxineiros, cozinheiros, seguranças, porteiros, secretários, professores, coordenadores, diretores etc, o que dinamiza melhor a distribuição das atividades entre estes profissionais. Além disso, cada sala era equipada com televisores com entrada de pendrive.

No primeiro dia de observação, o professor nos apresentou para todas as turmas e em seguida deu início à aula fazendo a chamada. O professor deu continuidade à ultima aula, cujo tema era “Os conflitos atuais e a organização do espaço geográfico na atualidade”. Esse conteúdo seria um dos últimos a ser ensinado antes da prova.
Foi feita a leitura no livro didático com a participação de alguns alunos nessa leitura. O professor utilizou o quadro negro apenas para escrever algumas palavras de relevância e um mapa-mundi para localizar as regiões abordadas na aula, e fez algumas perguntas para os alunos, relacionadas ao que tinham visto na televisão, jornal, internet ou revista sobre os conflitos mundiais. Alguns alunos responderam à pergunta, e citaram a Guerra no Iraque, o 11 de setembro e a questão na Geórgia. A turma se manteve um pouco agitada, porém houve uma participação satisfatória na aula. Acreditamos que isso tenha a ver com a proximidade da data da prova, a qual preocupava muito os alunos.
O professor não teve grande dificuldade em manter a disciplina na aula, algumas conversas paralelas foram notadas, porém dois meninos que conversavam muito foram alertados que iriam perder 1 ponto cada um na prova, caso continuassem a conversa. Eles mantiveram-se quietos após a atitude do professor.
No fim da aula o professor indicou uma leitura do material didático, sobre “O papel da África no século XXI”, que seria tema da aula seguinte. Todos os alunos deveriam ler sobre o tema, pois haveria a discussão do assunto.

Logo após a primeira aula, fomos para a outra turma do 3º ano. Nesta sala seriam dadas duas aulas seguidas de Geografia excepcionalmente, devido à necessidade que o professor teve anteriormente em ausentar-se. De acordo com a divisão dos horários, uma dessas aulas seria pertinente à uma outra turma de 3º ano, porém esta estava mais adiantada no conteúdo. O tema foi o mesmo da turma anterior: Os conflitos atuais e a organização do espaço geográfico na atualidade; porém veriam todo o conteúdo no mesmo dia. A turma estava muito agitada, principalmente no período que se aproximava do intervalo. O professor sentiu mais dificuldade em manter a atenção dos alunos sobre a matéria, pois eles não demonstravam interesse sobre o assunto, principalmente no momento da leitura. Poucos participavam espontaneamente, o que fez com que o professor questionasse mais os alunos para prendê-los a atenção. Um grupo de 5 alunos (3 meninos e 2 meninas) conversaram ao longo da aula, o que fez com que o professor pedisse para que eles trouxessem uma pesquisa feita em casa, individualmente sobre o assunto dado, para a aula seguinte valendo nota. Os alunos reagiram com aversão à ordem do professor, e disseram achar aquilo uma injustiça. O professor utilizou o quadro negro e mapa-mundi para expor alguns conceitos, igualmente na turma anterior, seguindo com algumas perguntas para a sala, focando-se principalmente nos alunos mais dispersos. Foi feita a chamada e também foi sugeria a leitura sobre a África no material didático.

Na observação seguinte, o professor cobrou a pesquisa dos 5 alunos que haviam se dispersado na aula anterior e fez a chamada. Apenas 1 não fez a tarefa. O professor disse que ele não estava levando à sério a matéria há muito tempo, e isso iria comprometê-lo no vestibular, além de perder 1 ponto na prova por não ter feito a pesquisa. O aluno mostrou indiferença ao comentário do professor e sentou-se na última carteira da sala, mostrando-se mais distante.
Posteriormente, o professor perguntou quem havia lido o texto sobre a África e cerca de 75% dos alunos afirmaram ter realizado a leitura. Houve surpresa por parte do professor, visto que geralmente menos de 50% costumam atende-lo nessas propostas. Em seguida, o professor discutiu a matéria e fez um esquema para orientação do conteúdo no quadro e expôs algumas imagens sobre a África, colhidas em revistas/livros. Este assunto mostrou grande interesse por parte da maioria dos alunos, que fizeram diversas perguntas ao professor, referentes à exploração dos africanos, a questão cultural etc. Um aluno citou o filme “Hotel Ruanda”, e sugeriu que fosse passado em sala de aula para a turma, mas o professor negou a proposta devido à falta de tempo, pois haveria de fazer uma revisão da matéria dada no semestre antes da prova; porém incentivou os alunos a assistirem ao filme.
A aula terminou com 10 minutos de atraso devido às diversas discussões sobre a África. Constatamos que a aula foi produtiva, pois houve grande interação entre os alunos e o professor; o que garantiu uma boa disciplina de todos.
O professor avisou que o conteúdo da matéria terminava alí e que a aula seguinte seria de revisão, e seria importante que os alunos estudassem para retirar possíveis dúvidas.

Em seguida partimos para outra turma que também teve a aula sobre a África. Até então nós não tínhamos observado a aula nessa sala, e o professor precisou nos apresentar. Segundo ele, esta turma era a mais agitada entre as três.
O professor fez a chamada e ao iniciar a aula manteve uma postura mais autoritária com a turma, devido à enorme dificuldade em mantê-los atentos à matéria. Haviam muitas conversas paralelas, o que tornava a aula mais improdutiva pela necessidade da intervenção do professor. Ele passou alguns tópicos no quadro, expôs as imagens e alguns alunos participaram da aula, porém a grande maioria parecia preocupada com outros assuntos, como a prova de matemática que ocorreria naquele mesmo dia, além de outros assuntos sem relação com a escola. O professor alertou um pouco irritado, que este tema cairia na prova e que era de relevância para o vestibular. A aula terminou com alguns minutos de antecedência devido à agitação da turma que afetou a paciência do professor.

Posteriormente seguimos para outra turma, onde cerca de 50% dos alunos haviam feito a leitura sobre a África. Porém a participação na aula mostrou-se satisfatória devido à participação dos alunos. O professor adotou o mesmo procedimento que nas turmas anteriores: quadro negro, imagens sobre a África e discussão do tema com os alunos. A aula foi produtiva e rica em informações.
Algumas conversas paralelas foram observadas, mas de modo geral, não atrapalharam a aula. O professor finalizou o conteúdo e lembrou os alunos sobre a revisão da aula seguinte.

Na observação seguinte, o professor iniciou a revisão para a prova. Os conteúdos revisados seriam: Nova Política Econômica, Oriente Médio (conflitos e importância geopolítica), Guerra Irã x Iraque, Guerra do Golfo, A questão do petróleo no cenário mundial, 11 de setembro, Os conflitos atuais e a organização do espaço geográfico na atualidade e a Questão Africana. Os alunos mostraram-se preocupados ao longo da revisão, pois a maioria não se sentia domínio do assunto. Muitos falaram que iriam muito mal na prova durante a aula, ao acompanharem o professor.
Percebemos uma disciplina maior por parte dos alunos, devido à proximidade com a data da avaliação. O professor não precisou interromper com freqüência a aula por causa das conversas paralelas. Nesta revisão o material utilizado foi: mapa-mundi e quadro negro, apenas.
Posteriormente, foi feita a revisão nas outras duas turmas, ambas comportaram-se basicamente como a turma anterior. Verificamos uma indisciplina um pouco maior em uma delas, onde o professor não pôde tirar muitas dúvidas dos alunos devido às conversas paralelas e interrupções desnecessárias dos alunos.
O professor alertou todas as turmas sobre a dificuldade da prova, pois ela abordaria temas importantes e complexos, o que amedrontou a grande maioria dos estudantes. Alguns se mostraram despreocupados ou desinteressados com o que o professor iria cobrar na prova.

De modo geral, vimos que o professor tem uma boa postura com a sala, apesar de toda a dificuldade em passar a matéria. Ele utiliza recursos importantes para o ensino de Geografia como mapas, imagens, reflexão dos temas através de conteúdos abordados na TV, internet, revistas e livros, além de promover a leitura do livro didático e fazer questões para a sala, na tentativa de prender a atenção dos alunos e fazê-los assimilar a matéria. Apenas, o quadro negro não é muito explorado, pois o professor utiliza-o apenas para fazer pequenos esquemas ou escrever algumas palavras, e isso dificulta o processo de aprendizagem de muitos alunos.

Avaliação geral

O Colégio Estadual Hugo Simas proporcionou uma visão interessante sobre uma instituição pública brasileira, pois mantém um padrão muito bom, tanto na questão da estrutura física quanto na qualidade do ensino, visto que como muitas outras instituições, esta também encontra dificuldades para atuar na área da educação. Isso o torna uma exceção se comparado com diversos outros colégios desta categoria da cidade, e também do país.

Conclusão

Este trabalho de observação nos fez refletir mais um pouco, não só sobre o ensino da Geografia nas escolas, mas no ensino de modo geral. Como diz Paulo Freire, quanto mais o professor possibilitar aos estudantes perceberem-se como seres inseridos no mundo, tanto mais se sentirão desafiados a responder aos novos desafios. Ensinar, aprender e pesquisar lidam com dois momentos do ciclo gnosiológico: o em que se ensina e se aprende o conhecimento já existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente.
José William Vesentini, uma referência ao que diz respeito à nova geografia escolar diz em uma de suas obras que:
Um ensino crítico da geografia não se limita a uma renovação do conteúdo – com a incorporação de novos temas/problemas, normalmente ligados às lutas sócias: relações de gênero, ênfase na participação do cidadão/morador e não no planejamento, compreensões das desigualdades e das exclusões, dos direitos sócias (inclusive os do consumidor), da questão ambiental e das lutas ecológicas etc. Ela também implica valorizar determinadas atitudes – combate aos preconceitos: ênfase ética, no respeito aos direitos alheios e às diferenças: sociabilidade e inteligência emocional – e habilidades ( raciocínio, aplicação/ elaboração de conceitos, capacidade de observação e de critica etc. (VESENTINI, 2004)

Alem disso, é possível ainda, tratar da questão da instituição de ensino onde
[...] podemos compreender um fenômeno que percorre a educação brasileira em todos os níveis, qual seja, a simultaneidade entre massificação e privatização do ensino. A massificação substitui a democratização: em lugar do igual direito de todos de acesso ao saber, a massificação envolve o ensino público no nível fundamental e no nível médio, de maneira que embora o número de crianças e adolescentes escolarizados seja grande, a qualidade do ensino é baixa e precária. Por sua vez, a privatização se torna sinônimo de modernidade e qualidade, sobretudo nos níveis fundamental e médio, de maneira que a educação supostamente de qualidade torna-se claramente uma mercadoria, desaparecendo a idéia de que seja um direito do cidadão. (CHAUI, 2003)


BIBLIOGRAFIAS

CHAUÍ, M. A universidade pública sob nova perspectiva. Disponível em: . Acesso em: 22 nov. 2008.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1975.

VESENTINI, José William. Realidades e perspectivas do ensino de Geografia no Brasil. ___In:VESENTINI, José William (Org.). O ensino de Geografia no século XXI. Campinas, SP: Papirus, 2004. p. 219-248

Artigo

_NOTAS SOBRE UMA EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA E AMBIENTAL


Jóyce Oliveira Leitão
Flávia R. L. Guimarães
Lucas Gusmão Mendes



O presente artigo tem como proposta realizar uma reflexão sobre a atual abordagem ambiental nas escolas, e tentar auxiliar na construção de uma educação ambiental que esteja de acordo com os interesses da ciência geográfica.
Antes de discorrer sobre nossas idéias é importante salientar que no atual período de nossa licenciatura ainda não realizamos o estágio de regência e todo o nosso real conhecimento sobre o Ensino Ambiental nas escolas parte do estudo dos PCN’s, dos estágios de observação, do conhecimento sobre o conteúdo dos livros didáticos e da experiência pessoal de cada um, uma vez que também passamos pelos bancos escolares do ensino fundamental e médio. Outro elemento que usamos para realizar nossas reflexões é a concepção de consciência ambiental abordada recentemente em programas televisivos, como nos programas infantis e nas novelas.
A partir da observação dos meios citados acima fica bem claro que a vinculação teórica deles, mesmo que de forma não explicita, esta atrelada as filosofias pós-modernas de Educação, muito parecidas com as idéias que os PCN’s têm proposto para os professores. É claro que neste artigo não pretendemos aprofundar a questão da educação pós-moderna e tampouco nos contrapor aos métodos utilizados por este viés filosófico. Como não nos debruçamos sobre o tema, também não pretendemos generalizar e simplificar a abordagem teórica de cada meio educacional mencionado anteriormente. O que gostaríamos de salientar é que, muito parecido as propostas, ou ausência de propostas dos PCN’s, estes meios de comunicação, e por conseguinte também meios de educação, transmitem a idéia de conservação do meio ambiente a partir de uma visão coletiva e/ou individual. Coletiva no sentido que apregoa que se todas as pessoas fizerem sua parte certamente conseguiremos salvar a natureza de uma futura catástrofe. Individual na medida em que acredita que este coletivo é constituído de partes individuais, na medida em que “cada um faz a sua parte”, ou seja, este coletivo na verdade é um todo individualizado, onde o todo se faz a partir da junção das partes, e simultaneamente colocam uma situação onde o todo não perpassa a parte dando-lhe o norte a ser seguido socialmente.
A citação abaixo é um resumo dos PCN’s acerca da questão ambiental. Nesta citação podemos verificar a intencionalidade dos Parâmetros em relação à Educação Ambiental:

Na forma proposta, estes conteúdos de Meio Ambiente ajudariam os alunos a construírem "uma consciência global das questões relativas ao meio, para que possam assumir posições afinadas com os valores referentes à sua proteção e melhoria". Eles aprenderiam "a reconhecer fatores que produzem o real bem estar, desenvolver um espírito de crítica às induções do consumismo e um senso de responsabilidade de solidariedade no uso dos bens comuns e recursos naturais, de modo a respeitar o ambiente e as pessoas da comunidade". Um alerta, que está no livro dos PCN: não basta o que se propõe em sala de aula, o convívio social da criança, é determinante para o aprendizado de valores e atitudes (por exemplo, o que fazer com lixo).


O ensino se volta para uma consciência global que deve levar a um posicionamento do aluno em relação ao meio ambiente. Mas que posicionamento é esse? O posicionamento que se espera é que a criança munida dos conhecimentos que lhe são passados passe a tomar atitudes cidadãs que protejam a natureza, como por exemplo, jogar o lixo no lugar adequado e até mesmo evitar o consumismo. Mas, como esperar que uma criança evite o consumismo sendo que a todo o momento ela é bombardeada com inúmeras formas de comunicação que a incitam a consumir? Como esperar que uma criança tenha um posicionamento cidadão sem ajudá-la a conhecer a realidade de sua própria cidade?
Concordamos com os PCN’s na medida em que estes defendem que o fim último da ação da educação seja a construção de um cidadão que respeite, dentro dos limites da sua vida privada, a integridade ambiental. Contudo, para além dos limites da individualidade somente um consciência ampla baseada em uma boa formação poderia fornecer instrumentos para criar não só um cidadão, como prevê os Temas transversais, mas um cidadão crítico e consciente dos inúmeros instrumentos de persuasão e de destruição que existem dentro de uma sociedade de produção capitalista.
Não é possível pedir para que uma criança não se torne uma consumista, sendo que o apelo ao consumo é muito forte na vida contemporânea. É preciso dar-lhe instrumentos para compreender os mecanismos que engendram o capitalismo, entre eles o consumismo.
Para que este objetivo seja atingido é necessário fazer do Tema Educação Ambiental uma disciplina Transversal. Não apenas por que o trabalho de temas transversais seja mais didático, mas porque a Educação Ambiental é demais abrangente para adentrar apenas uma disciplina.
Para que se entenda Meio Ambiente é preciso saber do degringolar da própria história do homem, e para absorver a preocupação ambiental é preciso desconstruir a dicotomia homem/natureza, e não há disciplina mais propicia para isto que a Geografia.
De acordo com as leituras de Luria sobre a obra Vigotsky e sobre o processo de ensino-aprendizado lê-se o seguinte:

Diferentemente do animal, cujo comportamento tem apenas duas fontes – 1)os programas hereditários de comportamento, subjacentes no genótipo e 2)os resultados da experiência individual - , a atividade consciente do homem possui ainda uma terceira fonte: a grande maioria dos conhecimentos e habilidades do homem se forma por meio da assimilação da experiência de toda a humanidade, acumulada no processo da história social e transmissível no processo de aprendizagem. (...) A grande maioria de conhecimentos, habilidades e procedimentos do comportamento de que dispõe o homem não são o resultado de sua experiência própria mas adquiridos pela assimilação da experiência histórico-social de gerações. Este traço diferencia radicalmente a atividade consciente do homem do comportamento animal. (LURIA, 1979)


Ou seja, a carga de conhecimento passada para o aluno é resultante do acumulo de experiências históricas outras. É preciso tornar isto claro para o alunado, para que este entenda o porquê das ações que hoje realizamos e o porquê da necessidade de aprimorar nosso modo de conviver com o mundo, pois:

O indivíduo humano se faz humano apropriando-se da humanidade produzida historicamente. O indivíduo se humaniza reproduzindo as características historicamente produzidas do gênero humano. Nesse sentido, reconhecer a historicidade do ser humano significa, em se tratando do trabalho educativo, valorizar a transmissão da experiência histórico-social, valorizar a transmissão do conhecimento socialmente existente. (DUARTE, 1995)


Consideramos que a partir desta compreensão da Educação baseada nos estudos de Vigotsky sobre o desenvolvimento do conhecimento, não podemos restringir o conhecimento com o fim último em atitudes individuais que juntas poderão melhorar o meio ambiente. É preciso fazer entender que como homem social, somos seres históricos e que portanto nossas ações dependem do ontem, e que da forma como a sociedade administrar os recursos naturais hoje é que dependerá o amanhã. Assim como estamos atrelados ao nosso passado histórico também estamos atrelados a nossa realidade presente, ou seja, aos demais indivíduos sociais que nos cercam.
Para entender Meio Ambiente, preservação e degradação é preciso, antes de tudo, entender as relações humanas e de poder que permeiam estes processos. Mais do que cidadãos a escola tem o dever de formar pensadores, pessoas que tenham cabedal de conhecimento necessário para se tornarem críticos das formas sociais que resultam em degradação ambiental.
Além de tomarmos iniciativas cotidianas é necessário também reivindicar e cobrar a fiscalização dos grandes blocos industriais que poluem o espaço do homem. É preciso fornecer ao aluno o entendimento de que o homem está ligado a Natureza por laços muito mais fortes do que a grande maioria das pessoas suspeita.
Com base nestas leituras de Educação Ambiental chegamos à conclusão de que a Geografia tem muito a contribuir para a construção de uma consciência cidadã, crítica e engajada. O processo de renovação da ciência geográfica passa pelos mesmos desafios que passam o Ensino Ambiental. A tentativa exaustiva de se livrar de uma visão positivista do mundo, onde as coisas são fragmentadas, onde a vida perde o seu sentido completo em meio à fragmentação do trabalho e das ciências. É preciso ajudar os alunos a alinhavarem as informações que recebem e entenderem que tudo esta dentro de um único pacote. O pacote que pode receber alguns nomes como sistema capitalista de produção, divisão de classes, mais-valia, lucro, renda da terra.
Para a construção de seres sociais humanizados, conscientes e que tenham subsídios para se apropriarem da própria existência é necessário se instrumentalizar de informações diversas, e alguma delas só poderão ser adquiridas na ambiente escolar.
Isso pode parecer um pouco utópico e de difícil alcance, mas a educação ocorre a partir da superação de limitações, fala Vigotsky (1993: 244-245)

Quando observamos o curso do desenvolvimento da criança durante a idade escolar e no curso de sua instrução, vemos que na realidade qualquer matéria exige da criança mais do que esta pode dar nesse momento, isto é, que esta realiza na escola uma atividade que lhe obriga a superar-se. Isto se refere sempre à instrução escolar sadia. Começa-se a ensinar a criança a escrever quando todavia não possui todas as funções que asseguram a linguagem escrita. Precisamente por isso, o ensino da linguagem escrita provoca e implica o desenvolvimento dessas funções. Esta situação real se produz sempre que a instrução é fecunda. (...) Ensinar a uma criança aquilo que é incapaz de aprender é tão inútil como ensinar-lhe a fazer o que é capaz de realizar por si mesma.


Assim não ocorre somente no âmbito pessoal, essa dimensão da superação também diz respeito a dialética que move o processo histórico, e assim deve ser na (re)construção da Educação. Uma superação processual dos limites impostos pelas mesmas forças hegemônicas que devastam os recursos naturais a fim de criarmos uma Educação mais humanizada e humanizadora.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DUARTE, Newton. A escola de Vigotsky e a Educação escolar (algumas hipóteses para uma leitura pedagógica da psicologia Histórico-Cultural). Araraquara, 1995.

LURIA, A. R. - Curso de Psicologia Geral, vol I, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1979.

SANTOS, Milton. O trabalho do Geógrafo no Terceiro mundo. São Paulo: Hucitec, 1996.
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais. Brasília, 1997.

VIGOTSKY, L. A. "Aprendizagem e Desenvolvimento Intelectual na Idade Escolar" in Psicologia e Pedagogia: bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento, São Paulo, Editora Moraes, 1991, pp. 1-17.

Planejamento detalhado de aulas simuladas



_AULA SIMULADA - 2º SEMESTRE

1. Identificação

Série: 7ª Série do Ensino Fundamental
Tema da aula: Estudo do Meio – Localização e percepção espacial


2. Objetivos

Com base na apresentação de alguns conceitos e discussões pertinentes ao assunto, o objetivo da aula é fazer com que os alunos saibam se orientar através de mapas, utilizar instrumentos de orientação (no caso, a bússola) e analisar o espaço à sua volta com um olhar crítico.

3. Conteúdos e conceitos a serem trabalhados

Por tratar-se de uma aula prática, partiu-se do pressuposto que os conteúdos teóricos já teriam sido dados na aula anterior, no qual o professor apenas se encarregaria de apresentar a bússola aos alunos, explicando-lhes como usá-la.

4. Procedimento / Metodologia

Partindo do pressuposto que os alunos já tenham tido uma explicação teórica sobre o assunto, busca-se através da entrega de algumas imagens de satélite (retiradas do Google Earth), que cada grupo localize-se no mesmo e anote a trajetória que irão fazer no roteiro pré-estabelecido pelo professor, no trabalho de campo. Após situarem a região ‘norte’ no mapa e saberem do roteiro a ser seguido por cada grupo, os alunos devem anotar alguns elementos positivos e negativos vistos durante o trajeto, além de apontar possíveis sugestões para solucionar os aspectos negativos encontrados por eles. Esse trajeto deverá ser realizado em aproximadamente 20 minutos e em seguida o professor coleta os dados anotando-os na lousa para discuti-los na sala.


Passo-a-passo



1° Passo

_Introdução


Tendo como base o texto de Sandra T. Malysz "Estágio em parceria universidade-educação básica", com enfoque no capítulo "Estudo do Meio", desenvolvemos a atividade "Estudo do Meio - Localização e percepção espacial".
Diante da importância que existe em conseguirmos nos orientar no espaço em que estamos, acreditamos que este trabalho é de relevância para os alunos. Além disso, analisar o que está ao nosso redor com um olhar crítico sobre ele, também se torna fundamental, para que possamos fomentar em cada um de nós a busca de informações, soluções e até mesmo contestar aquilo que for de interesse.
Aplicando essa idéia na sala de aula, buscamos familiarizar o aluno com o ambiente à sua volta, na tentativa de criar um novo olhar sobre ele.


2º Passo:

_Desenvolvimento

Relacionar o conteúdo teórico dado anteriormente com a atividade prática oferecida.
Em seguida, distribuir uma bússola por grupo, juntamente com um mapa ou imagem (aérea/via satélite) para que ambos possam se localizar. Sendo assim, os alunos deverão indicar a região 'norte' neste mapa.
Em seguida o professor deverá estipular um roteiro para cada grupo e solicitar que estes marquem no mapa o trajeto seguido, e também, anotar alguns aspectos positivos, negativos e possíveis soluções para aquilo que puder ser melhorado, ao observarem este percurso.
Após estipular um tempo para isso, o professor deverá se reunir com os alunos e discutir com eles o que foi observado e comentar sobre as devidas anotações, mostrando a importância do olhar crítico sobre o meio em que vivemos. Para isso, o ideal é que o professor anote no quadro negro o que cada grupo observou, para facilitar a dinâmica realizada.
A atividade deverá ser finalizada após esse debate.

_Objetivos

. Aprender a usar a bússola
. Saber se orientar através de mapas (ou outra representação espacial)
. Aguçar o olhar crítico
. Familiarização com o meio
. Promover o espírito renovador

_Materiais

. Quadro negro e giz
. Mapa (ou outra representação gráfica do meio a ser percorrido)
. Bússola
. Caneta ou lápis
. Cronômetro ou relógio

_Conclusão

Concluir a atividade mostrando o grau de importância que é saber nos localizar no meio em que estamos, além da necessidade de lançarmos um olhar crítico sobre ele, para que possamos identificar o que há de bom e quais são os problemas encontrados e que muitas vezes passam despercebidos por nós, juntamente com a noção de que como cidadãos podemos cobrar e colaborar para as devidas melhorias do local afetado.
José William Vesentini, diz que:

Um ensino crítico da geografia não se limita a uma renovação do conteúdo – com a incorporação de novos temas/problemas, normalmente ligados às lutas sociais: relações de gênero, ênfase na participação do cidadão/morador e não no planejamento, compreensões das desigualdades e das exclusões, dos direitos sócias (inclusive os do consumidor), da questão ambiental e das lutas ecológicas etc. Ela também implica valorizar determinadas atitudes – combate aos preconceitos: ênfase ética, no respeito aos direitos alheios e às diferenças: sociabilidade e inteligência emocional – e habilidades: raciocínio, aplicação/ elaboração de conceitos, capacidade de observação e de critica etc. (VESENTINI, 2004)



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MALYSZ, S. T Estágio em parceria universidade-educação básica.

VESENTINI, José William. Realidades e perspectivas do ensino de Geografia no Brasil. ___In:VESENTINI, José William (Org.). O ensino de Geografia no século XXI. Campinas, SP: Papirus, 2004. p. 219-248